A árvore Huluppu
Atualizado: Fev 18

Nos primeiros dias, nos primeiríssimos dias
Nas primeiras noites, nas primeiríssimas noites
Nos primeiros anos, nos primeiríssimos anos
Nos primeiros dias, quando tudo o que era necessário foi trazido à existência
Nos primeiros dias, quando tudo o que era necessário foi propriamente nutrido
Quando o pão foi assado nos santuários da terra
E o pão foi provado nas casas da terra
Quando o céu havia se afastado da terra
E a terra se separado do céu
E o nome do homem foi fixado
Quando o Deus Céu, An, havia tomado os céus
E o Deus Ar, Enlil, havia tomado a terra
Quando a rainha do grande abaixo, Ereskigal, recebeu
o submundo como o seu domínio
Ele zarpou, o Pai zarpou,
Enki, o Deus da Sabedoria, navegou para o submundo
Pequenas pedras no vento foram jogadas contra ele
Grandes granizos foram arremessados contra ele
Como tartarugas apressadas
Elas atacaram a quilha do barco de Enki
As águas do mar devoraram a proa de seu barco como lobos
As águas do mar golpearam a popa de seu barco como leões
Naquele tempo, uma árvore, uma única árvore, a árvore Huluppu
Foi plantada às margens do Eufrates
A árvore foi nutrida pelas águas do Eufrates
O rodopiante Vento Sul se ergueu, puxando suas raízes
E açoitando seus galhos
Até que as águas do Eufrates a levou embora
Uma mulher que andava temendo a palavra do Deus Céu, An,
Que andava temendo a palavra do Deus do Ar, Enlil,
Retirou a árvore do rio e falou:
“Eu devo levar essa árvore para Uruk.
“Eu devo plantar essa árvore no meu jardim sagrado.”
Inanna cuidou da árvore com sua mão
Ela arrumou a terra no entorno da árvore com seu pé
Ela se perguntou:
“Quando tempo se passará até que eu tenha um trono brilhante para sentar sobre?
“Quanto tempo se passará até que eu tenha uma cama brilhante para deitar sobre?
Os anos se passaram, cinco anos, e então dez anos.
A árvore cresceu grossa
Mas sua casca não se fendeu.
E então, uma serpente que não podia ser enfeitiçada
Fez seu ninho nas raízes da árvore Huluppu
O pássaro Anzu colocou seus filhotes nos galhos da árvore
E a aia escura Lilith construiu sua casa no tronco
A mulher jovem que amava rir chorou
Como Inanna chorou!
E ainda assim, eles não deixaram a árvore
Quando os pássaros começaram a cantar com a chegada da aurora
O Deus Sol, Utu, deixou seus aposentos reais
Innana chamou por seu irmão, Utu, dizendo
“Ó, Utu, nos dias em que o destino foi decretado,
Quando a abundância transbordou sobre a terra,
Quando o Deus Céu tomou os céus e o Deus do Ar tomou a terra
Quando o grande abaixo foi dado a Ereskigal como o seu domínio
O Deus da sabedoria, pai Enki, zarpou para o submundo
E o submundo se ergueu e o atacou
Naquele tempo, uma árvore, uma única árvore, a árvore Hullupu
Foi plantada às margens do Eufrates
O Vento do Sul puxou as suas raízes e açoitou os seus galhos
Até que as águas do Eufrates a levaram embora
Eu retirei a árvore do rio
Eu a trouxe até o meu jardim sagrado
Eu cuidei da árvore, esperando pelo meu trono e cama dourados
E então, uma serpente que não podia ser enfeitiçada
Fez seu ninho nas raízes da árvore
O pássaro Anzu colocou seus filhotes nos galhos da árvore
E a aia escura, Lilith, construiu sua casa no tronco
Eu chorei,
Como eu chorei!
E ainda assim, eles não deixaram a minha árvore.
Utu, o guerreiro valente, Utu
Não ajudou sua irmã, Inanna
Quando as aves começaram a cantar com a chegada na segunda aurora
Inanna chamou por seu irmão Gilgamesh, dizendo:
Ó Gilgamesh, nos dias em que os destinos foram decretados,
Quando a abundância transbordou na Suméria,
Quando o deus Céu tomou os céus, e o Deus Ar
a terra,
Quando o Grande Abaixou foi dado a Ereskigal como o seu domínio
O Deus da Sabedoria, pai Enki, zarpou para o submundo
E o submundo se ergueu e o atacou
Naquele tempo, uma árvore, uma única árvore, a árvore Hullupu
Foi plantada nas margens do Eufrates
O Vento Sul arrancou as suas raízes e açoitou os seus galhos
Até que as águas do Eufrates a levaram embora
Eu retirei a árvore do rio
Eu a trouxe até o meu jardim sagrado
Eu cuidei da árvore, esperando pelo meu trono e cama dourados
E então, uma serpente que não podia ser enfeitiçada
Fez seu ninho nas raízes da árvore
O pássaro Anzu colocou seus filhotes nos galhos da árvore
E a aia escura, Lilith, construiu sua casa no tronco
Eu chorei,
Como eu chorei!
E ainda assim, eles não deixaram a minha árvore.
Gilgamesh, o guerreiro valente, Gilgamesh
o herói de Uruk, apoiou Inanna
Gilgamesh prendeu sua armadura de cinquenta minas em torno de seu peito.
Para ele, as cinquenta minas pesaram tão pouco quanto cinquenta penas
Ele levantou o seu machado de bronze, o machado da estrada,
Pesando sete talentos e sete minas, aos seus ombros
Ele entrou no jardim sagrado de Inanna
Gilgamesh golpeou a serpente que não podia ser enfeitiçada
O pássaro Anzu voou com seus filhotes para as montanhas
E Lilith destruiu sua casa e fugiu para lugares inabitados e selvagens
Gilgamesh então afrouxou as raizes da Árvore Huluppu
E os filhos da cidade, que o acompanharam, cortaram fora os galhos
Do tronco da árvore ele esculpiu um trono para sua irmã sagrada.
Do tronco da árvore Gilgamesh esculpiu uma cama para Inanna
Das raízes da árvore ela forjou um pukku para seu irmão.
Da copa da árvore Inanna forjou um mikku para Gilgamesh,
o herói de Uruk.
Tradução do inglês por Julia Myara de texto vertido do acádio por Samuel Noah Kramer presente no livro “Inanna - Queen of heaven and earth - her stories and hymns from Sumer", de Diane Wolkstein e Samuel Noah Kramer.