Yasmin Nigri voando nas bigornas
por Viviana Ribeiro
Repost de 12/04/2019

Reprodução da capa do livro.
Fazer uma resenha do livro “Bigornas” em forma de poema
Talvez a Nigri fizesse e gostasse desse modo de fazer resenha
[de livro de poemas Ainda que eu diga que os poemas dela concretizam a aptidão máxima da arte que é a criação de afectos e perceptos, como diria Deleuze
[Digo “Ainda que”] Porque ela, a Nigri, pensa [também] com Adorno E Deleuze e Adorno têm lá suas pequenas e grandes divergências no pensamento
[embora combatam os porcos nazistas com o mesmo afinco]
[A Nigri...sempre fico em dúvida sobre como me referir às mulheres nos textos...dado que foi estabelecido pela linguagem dominante que, quando citamos os homens, usamos o sobrenome e quando citamos as mulheres, usamos o primeiro nome [Clarice, Virginia, Ana, Hilda, Chimamanda, Susan, Simone, Angélica, Elena, Carolina, Conceição...]
daí, se a gente fala Nigri, corre o risco do leitor automatizar na porra da cabeça “livro de poemas dO...” se a gente fala o primeiro nome, continua usando a mesma linguagem que convencionou que quando nos referimos às mulheres, citamos o primeiro nome e quando nos referimos aos homens, citamos o sobrenome
Yasmin Nigri, então, para que não tenha dúvidas sobre quem escreve
[importa quem escreve? Ah tá, senta lá, Foucault!]
Os poemas de “Bigornas” dialogam com a história das mulheres.
Com a história dos poemas.
Com as-os escritoras-escritores preferidas-preferidos da Yasmin [Nigri]
[só se conversa daquele jeito com as-os autoras-autores que a gente ama muito]
Dialoga conosco, as-os leitoras-leitores. Dialoga não, dá uns trancos, sabe?
Fissurando Lacan:
O limite da função histórica do sujeito:
- Planetas decidindo sobre vidas
Um verso que merece o seguinte lembrete nas margens: “Come chocolates, pequena; Come chocolates! Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates”
Kit Kat?
– Ninguém tá te pagando para fazer merchan, Yasmin
Um verso delícia:
Sabe o que cairia bem agora
Você de um prédio
Uma meiguice:
É mais fácil um carvalho transpirar
Do que eu te escrever um poema de amor
Projeto dos [golpistas]-machos-velhos-brancos-heteronormativos-escravocratas-latifundiários-misóginos-e-brochas para o Brasil:
como é mesmo o olhar dos motoristas
de caminhão pipa
que não têm água em casa
que não tem água em casa
Antídoto para [a tragédia] da academia:
Citação
o que se coloca entre aspas
quando tudo já foi dito
é a insistência
em nomear nossos fracassos
De Glauber para Benjamin:
O mínimo que se espera de um leitor é que ele tenha um amor especial pelos esquecidos e os que deixam de escrever
Poema para Ana C.
FRANK O’HARA
Sentimento de Clarice:
o cigarro cai dos dedos
enquanto adormeço
apetecia ser lentamente devorada
pelo incêndio de um fogo consolador
desperto
Para lembrar das preciosidades:
BIGORNAS
Não há perguntas. Selvagem.
o silêncio cresce, difícil.
(Orides Fontela, "Esfinge")
Da potência política da literatura:
estamos pisando sobre os restos única maneira de não esquecer
Se a literatura é uma das armas de combate que auxilia na criação e manutenção da memória coletiva, é porque se faz mesmo nesse lugar da ambiguidade: escreve-se para esquecer e para lembrar os outros[1], o mundo, o futuro Lembrar para que não se repita.
Lembrar para que não se repita.
Lembrar para que não se repita.
RUA DE ONTEM
ou
Como era mesmo que você me olhava quando a gente ainda se via?
Para que não repitam conosco. Comigo. Com você. Com Yasmin. Letícia. Ana. Joana. Joaquina. Maria. Eduarda. Tatiane. Claudia. Cristina – casos singulares como marca da história
Como era mesmo que você me olhava quando a gente ainda se via?
Depois que li seu livro, Yasmin, escrevi UM MANIFESTO, organizei um motim e terminei um artigo para uma revista
[e aqui e agora, uma resenha em forma de poema]
[olha a potência de um livro, bicho!]
“Tuas Bigornas me forçaram [e, de certa forma, organizaram] um monte de pensamentos que ainda não tinham saído para o papel!”
Tem melhor elogio que esse, gata?
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[1] Citação indireta de Beatriz Sarlo, em Paisagens Imaginárias. [para cumprir algum protocolo e porque a Beatriz Sarlo merece]

[1] Citação indireta de Beatriz Sarlo, em Paisagens Imaginárias